A República de Platão é o livro mais conhecido do filósofo grego. Contudo, em "O Banquete", também conhecido como Simpósio, Platão vai discutir as naturezas do amor e da alma.
Tenho para vos propor que, enquanto o problema da falta de professores continuar a ser ignorado, que tal criarmos um regime excecional? Vamos aumentar o número de alunos por turma e fazer uma redução "ligeramente vantajosa" da carga curricular. Afinal, quem precisa de aprendizagens de qualidade quando podemos empilhar crianças como se fossem sardinhas em lata?
E essa ideia de “escola a tempo inteiro”? Que piada! Vamos encerrar isso temporariamente, porque, claro, nada condiz com "educação" como cortar o tempo que os alunos passam na escola, especialmente quando os recursos são tão escassos que parece que estamos a tentar encher um balde furado. É uma solução brilhante, não é? Que venha o caos!
Agora, mais a sério.
... enquanto algumas propostas que se vão ouvindo procuram lidar, à bruta, com a escassez de recursos, é essencial considerar o óbvio: as potenciais consequências negativas que tais medidas poderiam ter sobre a qualidade do ensino, o desenvolvimento dos alunos e a saúde dos professores que (ainda) lecionam. Uma abordagem mais holística, que priorize a formação de professores, a dignificação da sua carreira e das suas condições de trabalho oferecerá soluções bem mais sustentáveis e benéficas a longo prazo.
Uma abordagem para a falta de professores, que sugira um aumento do número de alunos por turma e uma redução da carga curricular, além do fim temporário da "escola a tempo inteiro", merece uma réplica que não ultrapassa cinco argumentos óbvios:
Qualidade do Ensino: Aumentar o número de alunos por turma comprometeria - principalmente no 1.º Ciclo - a qualidade do ensino. Turmas maiores dificultam a atenção individualizada, o que é essencial para o processo ensino-aprendizagem. Alunos ficariam para trás.
Pressão sobre os Professores: Reduzir a carga curricular não resolveria a falta de professores, mas criaria um efeito cascata de desvalorização do ensino. A carga curricular é, muitas vezes, desenhada para garantir um desenvolvimento educacional equilibrado pelo que a sua redução levaria a lacunas significativas que só o futuro desnudaria em toda a sua extensão e profundidade.
Impacto no Desenvolvimento dos Alunos: A "escola a tempo inteiro" não oferece apenas ensino, mas também atividades extracurriculares que são essenciais para o desenvolvimento social e emocional dos alunos. Acabar com essa oferta poderia prejudicar o bem-estar e a formação integral e harmoniosa das crianças, além do impacto nas dinâmicas familiares.
Provisório pode tornar-se Permanente: Medidas transitórias podem transformar-se em permanentes. Historicamente, soluções "temporárias" acabaram com o estatuto de “práticas estabelecidas”, levando a um enfraquecimento da estrutura educativa a longo prazo.
Igualdade de Oportunidades: A redução da carga curricular poderia afetar desproporcionalmente alunos de contextos socioeconómicos mais vulneráveis, que já enfrentam dificuldades no acesso à educação de qualidade. Manter a carga curricular e a oferta de escola pode ser uma forma de garantir que todos os alunos tenham oportunidades equivalentes para o tão almejado sucesso educativo.
Em suma, enquanto algumas propostas que se vão ouvindo procuram lidar, à bruta, com a escassez de recursos, é essencial considerar o óbvio: as potenciais consequências negativas que tais medidas poderiam ter sobre a qualidade do ensino, o desenvolvimento dos alunos e a saúde dos professores que (ainda) lecionam. Uma abordagem mais holística, que priorize a formação de professores, a dignificação da sua carreira e das suas condições de trabalho oferecerá soluções bem mais sustentáveis e benéficas a longo prazo.
No entretanto, seria bom que nos poupássemos de dar ideias ao "carrasco". É que não há nexexidade...
Com frieza, racionalidade e espírito construtivo, importa reconhecer que o combate aos incêndios em Albergaria-a-Velha, enfrentou vários desafios que contribuíram para dificuldades e falhas no seu controle eficaz. De forma despretensiosa, permito-me identificar alguns dos principais problemas, ou constrangimentos, que sobressaíram aos olhos de um cidadão comum, que até teve de abandonar a sua casa por duas vezes:
Condições Meteorológicas Adversas
Ventos fortes e temperaturas elevadas: O calor extremo e os ventos intensos dificultaram os esforços para conter os incêndios, permitindo a rápida propagação das chamas. A previsão inadequada ou a subestimação das condições meteorológicas podem ter contribuído para uma reação inicial menos eficaz.
Coordenação Ineficiente dos Meios no Terreno
Falta de articulação entre as forças: Apesar da mobilização de vários meios, como bombeiros, proteção civil e militares da GNR, houve relatos de falta de coordenação no terreno. A comunicação entre as equipas de combate terá sido, em alguns momentos, insuficiente, levando a uma menor eficácia na distribuição dos recursos, o que atrasou a resposta em áreas críticas.
Atraso na mobilização de meios aéreos: Os meios aéreos são fundamentais para conter a propagação inicial do fogo. No entanto, a sua mobilização pode ter ocorrido tardiamente ou até mesmo em número insuficiente, resultando numa incapacidade de conter as chamas antes que atingissem proporções maiores.
Falta de Prevenção e Gestão do Território
Acumulação de material combustível: A gestão do território florestal revelou-se deficiente, com grande acumulação de material combustível como mato e árvores secas. A falta de limpeza e de ordenamento do território multiplicou as áreas suscetíveis a incêndios de maiores proporções.
Monoculturas de eucaliptos: A prevalência de monoculturas de eucalipto, uma espécie (como sabemos) altamente inflamável, foi outro fator agravante. A ausência de diversificação e a escassez de barreiras naturais aumentou o risco de rápida propagação do fogo.
Infraestruturas e Recursos Insuficientes
Carência de bombeiros e meios logísticos: Em certas fases do combate, pareceu evidente uma falta de bombeiros disponíveis para o combate direto às chamas. A escassez de recursos logísticos, como água e equipamento de proteção, também foi notada, comprometendo a capacidade de reação rápida.
Falta de formação adequada para populares voluntários: O elevado número de populares voluntários sem formação específica para combater incêndios florestais também foi por alguns apontado como um fator de risco, colocando em causa a segurança e a eficácia das operações.
Respostas Tardias ou Inadequadas a Sinais de Risco
Reação tardia a focos de incêndio: Houve relatos de respostas tardias aos primeiros focos de incêndio, o que permitiu que as chamas ganhassem força. A deteção precoce e a rápida intervenção são, como se sabe, fundamentais para conter incêndios, mas parece que as falhas nesta etapa poderão ter contribuído para a escalada do problema.
Falta de sistemas de alerta locais eficazes: Em algumas áreas, os sistemas de alerta às populações locais e de evacuação não terão sido suficientemente escorreitos, o que resultou em situações de tensão acrescida para os residentes.
Em conjunto, estes fatores demonstraram uma combinação de condições adversas com falhas estruturais no combate aos incêndios, que pode ter ido desde a preparação até à resposta dada no terreno.
Aguardemos pela resposta dos poderes públicos, que dirá da sua capacidade para aprender (ou não) com os erros. De igual modo, caberá às populações acompanhar e escrutinar a ação futura dos seus eleitos locais, avaliando, com exigência, as suas opções.
Cinco propostas concretas a pensar (já) em 2025
Para prevenir novos e graves incêndios em Albergaria-a-Velha em 2025, afigura-se essencial adotar, o quanto antes, medidas de prevenção e gestão territorial eficazes, bem como fortalecer a resposta local. Não sou perito na matéria embora, nas últimas semanas, me tenha esforçado por contactar profissionais e especialistas da área, bem como consultar alguma da bibliografia disponível, que me estimularam a ponderar cinco propostas concretas:
Reforço da Gestão Florestal e Limpeza Regular
Limpeza obrigatória de terrenos: Desenvolver programas rigorosos de fiscalização e incentivos para a limpeza de terrenos, especialmente nas áreas rurais e florestais. Em consequência, deve ser priorizada a criação de faixas de contenção e a remoção de material combustível (mato, arbustos e árvores secas).
Incentivo à diversificação florestal: Fomentar a substituição progressiva de monoculturas de eucalipto por espécies autóctones e menos inflamáveis, criando zonas de floresta resiliente que funcionem como barreiras naturais contra o avanço de incêndios.
Criação de Zonas de Proteção de Agregados Populacionais
Faixas de proteção contra incêndios: Definir zonas de segurança (firebreaks) em redor das áreas habitacionais e infraestruturas críticas, com uma manutenção rigorosa e regular, para evitar que os incêndios florestais atinjam rapidamente as casas e outro património edificado.
Plano de evacuação e alerta: Desenvolver um plano de evacuação atualizado e bem publicitado junto das populações, com sistemas de alerta eficazes, como sirenes, mensagens de texto automáticas e coordenação com os serviços centrais de emergência.
Aumento do Investimento em Sistemas de Deteção e Monitorização
Instalação de torres de vigilância e câmaras de monitorização: Reforçar a rede de vigilância florestal com a instalação de torres equipadas com câmaras de monitorização em tempo real, ligadas aos serviços de emergência, para uma deteção precoce de focos de incêndio. Neste particular, alerto, a título de exemplo, que a torre de vigia, durante anos instalada no Monte da Nossa Senhora do Socorro, foi desmantelada.
Utilização de tecnologia de drones: Implementar o uso de drones para patrulhas periódicas, especialmente durante a época de maior risco de incêndios, para identificar possíveis pontos críticos e intervir preventivamente.
Eis a base torre de vigia, durante anos localizada no Monte da Nossa Senhora do Socorro e, entretanto, desmantelada
Fortalecimento das Equipas Locais de Combate e Prevenção
Reforço do corpo de bombeiros e formações contínuas: Aumentar os recursos humanos e materiais dos nossos corpos de bombeiros, garantindo, com um leque atrativo de incentivos, a formação contínua dos profissionais e voluntários em técnicas de combate a incêndios florestais, gestão de emergência e evacuação.
Parcerias com voluntários locais e agricultores: Incentivar a criação de brigadas voluntárias de prevenção de incêndios, com formação adequada e equipamentos fornecidos pelas autoridades locais, integrando os agricultores na prevenção ao fomentar a criação de zonas de pastoreio controlado e faixas de proteção.
Campanhas de Sensibilização e Educação Comunitária
Programas de educação sobre riscos de incêndios: Promover campanhas regulares de sensibilização e educação pública sobre prevenção de incêndios florestais, envolvendo escolas, associações locais e meios de comunicação. Informar a população sobre boas práticas na limpeza de terrenos e comportamentos de risco.
Apoio a práticas agrícolas sustentáveis: Incentivar os agricultores a adotar práticas agrícolas que reduzam o risco de incêndios, como – repito-o – o pastoreio controlado, a criação de aceiros naturais e o uso responsável (e autorizado!) do fogo para limpezas.
Estas propostas representariam um esforço que, pelo menos, teria o condão de compatibilizar ações preventivas com um reforço dos recursos de combate e sensibilização, criando uma abordagem integrada para reduzir, significativamente, o risco de novos incêndios em Albergaria-a-Velha.
Aguardemos pela resposta dos poderes públicos, que dirá da sua capacidade para aprender (ou não) com os erros. De igual modo, caberá às populações acompanhar e escrutinar a ação futura dos seus eleitos locais, avaliando, com exigência, as suas opções.
Quase trinta anos ao serviço de um jornal de tiragem nacional não chegaram para evitar o desemprego fruto de uma reestruturação que, no essencial, decorre do imperativo de sempre: redução dos custos de trabalho. Ricardo, da tarimba dos seus cinquenta e seis anos, enfrenta uma nova etapa da sua vida de fotógrafo profissional – o desemprego puro e duro.
Conviveu com grandes nomes do fotojornalismo e marcou presença nos mais sangrentos palcos de guerra que o planeta já conheceu. Casado com Amélia, nascida em Marvão, aceitou o repto, por ora irrecusável, de recolher-se naquela simpática vila bem próxima da fronteira de Espanha, situada entre Castelo de Vide e Portalegre, no ponto mais alto da bonita Serra de São Mamede, na região alentejana.
Fruto da evolução tremenda registada nos equipamentos, Ricardo investiu forte. Está hoje munido de invejáveis reflex profissionais, acessórios técnicos e outros arrojados complementos óticos. Aderiu às últimas tendências e tecnologias, escolhendo produtos híbridos. Em conclusão, está sem pé-de-meia porque nunca, nos seus mais ousados pesadelos, logrou antecipar tão violenta mudança de vida.
Inquieto e agitado pelas circunstâncias, tenta manter as rotinas e logo pela manhã sai com o seu arsenal diário de fotografia.
Num ambiente de paz de espírito e tranquilidade, circundada por muralhas do século XIII e do século XVII, Marvão eleva-se bem alto firmando os seus méritos de terra histórica com ruas tortuosas e branco casario, mostrando que o tempo não é tão célere e ligeiro como tantas vezes faz crer. Ricardo esforça-se por tudo captar mesmo que tenha de desafiar a sorte naquela localização singularmente estratégica – com difíceis acessos, que serviram como proteção natural, e de tão vizinha da fronteira, fez com que fosse um baluarte defensivo português durante séculos, onde se travaram numerosas batalhas e combates políticos. O dedilhar insano regista, sob os mais inesperados ângulos, os inúmeros menires e antas que remontam aos períodos Paleolítico e Neolítico.
Este fotógrafo talhado pelo frenético pulsar da grande Lisboa detém-se no refinado exercício de contemplar a História que corre naquelas ruas apertadas, celebrando a arquitetura alentejana, as heranças góticas, os legados manuelinos e os espólios medievais de outros tempos e ofícios, marcados na rudeza do granito local.
Mas estar no Alentejo é submeter-se aos ditames da sua luz, daquele sol inclemente e escaldante que ilumina e amadurece as uvas e da secura emanada pelas suas planícies onduladas sem fim. Ricardo, mesmo abatido pela ausência de outros horizontes, percebe estar autenticamente esmagado pela imponência de vinhas cultivadas por fenícios, gregos, romanos e, hoje, por grandes casas agrícolas e produtores que vêm afirmando a marca Alentejo entre os valorizados vinhos portugueses. Ali repousa, com secular ciência, um mundo de sabores diferentes que exige, como tudo o mais no Alentejo, tempo para o compreender e festejar.
O parceiro das mil e uma objetivas, foi arrebanhado pelos vinhos alentejanos. As agora mais frequentes comezainas com o sogro são preenchidas com demoradas degustações onde alterna os brancos frutados, de aromas intensos e originais com os tintos de aromas igualmente frutados, mas frescos.
Notando a frustração do genro, o patriarca lança para a mesa um branco que define com nobre exatidão:
- “Aqui está o mais recente da herdade. No nariz, é elegante com aromas a frutos tropicais. Na boca, é fresco, frutado e com uma agradável acidez. Final fresco e persistente.” – sentenciou naquele tom monocórdico que distingue os abastados na vida.
Ricardo, na verdade, nada escutou. Os seus pensamentos vagueiam pelas ruas da grande metrópole de onde espera uma resposta para a sua crescente agonia. Os planos estão troikados e o presente, apesar da tão frustrante quanto necessária ajuda do sogro, é contado ao cêntimo.
O professor do 1.º Ciclo em Portugal desempenha um papel fundamental no desenvolvimento inicial das crianças, e a sua importância pode, desde logo, ser comprovada por três razões fundamentais:
Base do Desenvolvimento Cognitivo e Social: O professor do 1.º Ciclo é responsável pela introdução das primeiras aprendizagens estruturadas, como a leitura, a escrita e a matemática. Ele também ajuda as crianças a desenvolverem competências sociais essenciais, como a cooperação, o respeito e a empatia, enriquecendo a forma como os alunos interagem e aprendem ao longo da vida escolar.
Promoção da Igualdade de Oportunidades: Num contexto em que muitas crianças chegam à escola com diferentes contextos familiares e socioeconómicos, o professor do 1.º Ciclo tem um papel crucial em garantir que todos os alunos tenham acesso às mesmas oportunidades de aprendizagem. Ele pode ajudar a identificar e a minimizar desigualdades, promovendo a inclusão e dando suporte adicional aos alunos que precisem.
Deteção e Apoio às Dificuldades de Aprendizagem: Nesta fase inicial, o professor tem a capacidade de observar de perto o desenvolvimento dos alunos e identificar dificuldades ou necessidades especiais. Intervenções precoces podem ser feitas, desencadeando encaminhamentos especializados, para garantir que as crianças recebam o apoio necessário para superar barreiras de aprendizagem, evitando problemas mais graves no futuro.
Por uma questão de economia de tempo, estas razões mostram, por si, como o professor do 1.º Ciclo não só contribui para o sucesso escolar, mas também para o desenvolvimento integral e harmonioso dos alunos.
Revisão do Estatuto da Carreira Docente: que propostas para os docentes do 1.º Ciclo?
O processo negocial tendente à Revisão do Estatuto da Carreira Docente (ECD), que hoje se inicia, deve ser encarado como a derradeira oportunidade para fazer justiça aos monococentes, designadamente aos do 1.º Ciclo. Para isso, assoma-se o imperativo de assegurar a equiparação do horário letivo dos professores do 1.º Ciclo aos seus pares de outros níveis de ensino em Portugal como medida crucial e inadiável, que pode ser justificada por várias razões:
Equidade nas Condições de Trabalho
Carga horária equivalente: Os professores do 1.º Ciclo têm uma carga letiva superior (de 25 horas semanais) em comparação com os professores dos outros ciclos, que geralmente têm 22 tempos letivos. Esta disparidade cria uma desigualdade nas condições de trabalho, uma vez que os professores do 1.º Ciclo têm menos tempo para preparação de aulas, correção de trabalhos e formação contínua. A igualdade no horário letivo garantirá condições mais justas para todos os docentes.
Natureza multifacetada das tarefas: Além de lecionarem várias disciplinas, os professores do 1.º Ciclo são responsáveis por uma grande variedade de atividades extracurriculares, administrativas e de apoio aos alunos, o que aumenta significativamente a sua carga de trabalho. Equiparar o horário letivo reduzirá a sobrecarga e proporcionará mais tempo para estas tarefas não letivas.
Necessidade de Tempo para Preparação e Formação
Diversidade das responsabilidades pedagógicas: Ao lecionarem todas as disciplinas, os professores do 1.º Ciclo necessitam de tempo adicional para planeamento de aulas, diversificação de materiais pedagógicos e individualização das aprendizagens para atender alunos com diferentes necessidades. Com um horário letivo equiparado, terão mais tempo para se dedicarem à preparação eficaz de conteúdos e à adaptação das suas práticas pedagógicas.
Formação contínua e desenvolvimento profissional: Tal como os seus colegas de outros níveis de ensino, os professores do 1.º Ciclo precisam de tempo para se manterem atualizados com novas metodologias, tecnologias educativas e formação especializada, como nas áreas de inclusão e diferenciação pedagógica. Um horário mais equilibrado permitirá maior disponibilidade para investir no seu desenvolvimento profissional.
Redução do Desgaste Físico e Emocional
Alta intensidade de interação direta com os alunos: Os professores do 1.º Ciclo têm uma interação contínua e intensa com os alunos, muitas vezes sem o apoio de outros docentes ou assistentes. Esta proximidade e a necessidade de gestão de turmas durante longos períodos causam um desgaste físico e emocional superior, comparativamente a outros ciclos, onde há mais variedade de professores ao longo do dia.
Prevenção do burnout: A carga horária elevada combinada com as múltiplas funções do professor do 1.º Ciclo pode levar ao esgotamento profissional. Reduzir o horário letivo para equipará-lo ao dos outros níveis de ensino contribuirá para uma melhoria da saúde mental e bem-estar dos docentes, reduzindo os índices de burnout.
Melhoria da Qualidade Educativa
Tempo para personalizar o apoio aos alunos: Com um horário letivo mais equilibrado, os professores do 1.º Ciclo terão mais tempo para atender de forma individualizada os alunos com dificuldades ou necessidades especiais. O aumento do tempo disponível para análise e planeamento pode melhorar a eficácia das intervenções pedagógicas, resultando em melhor qualidade educativa.
Aumento da motivação e satisfação profissional: A sobrecarga de trabalho afeta a motivação e a satisfação dos professores. Reduzir o horário letivo pode aumentar a motivação, permitindo que os docentes se sintam mais valorizados e reconhecidos, o que tem impacto direto na qualidade do ensino.
Estas razões apontam para a importância de uma maior equidade na carga letiva dos professores do 1.º Ciclo, com benefícios tanto para os docentes como para os alunos, melhorando as condições de trabalho e, consequentemente, o desempenho educativo.
Proposta para um Regime Especial de Aposentação dos Professores do 1.º Ciclo em Portugal
Objetivo: Implementar um regime especial de aposentação para os professores do 1.º Ciclo, reconhecendo as exigências físicas, emocionais e intelectuais da profissão, que se intensificam ao longo dos anos devido à interação constante e prolongada com crianças em idade precoce e à multiplicidade de funções pedagógicas e administrativas.
Principais Pontos:
Aposentação Antecipada com Penalizações Reduzidas:
Permitir a aposentação voluntária dos professores do 1.º Ciclo a partir dos 60 anos de idade ou 35 anos de serviço, com penalizações reduzidas face ao regime geral. Isto reconhece o desgaste particular associado à profissão, promovendo uma transição digna para a aposentação.
Bonificação por Anos de Serviço no 1.º Ciclo:
Implementar um sistema de bonificação por cada 5 anos de serviço prestados exclusivamente no 1.º Ciclo, permitindo a redução do tempo necessário para a reforma sem penalizações ou com penalizações significativamente menores, valorizando o tempo de trabalho em contexto de elevado desgaste.
Acesso Preferencial a Aposentação por Doença:
Garantir um regime mais flexível para a aposentação por incapacidade ou doença, com processos simplificados e acompanhamento especializado, dado o maior risco de burnout, desgaste emocional e problemas de saúde relacionados com o stress da profissão.
Transição Gradual para Funções Menos Exigentes:
Criar a possibilidade de, nos últimos 5 anos de carreira, os professores do 1.º Ciclo poderem transitar gradualmente para funções menos exigentes fisicamente, como apoio pedagógico, coordenação ou formação de novos professores, sem penalização salarial.
Este regime reconheceria a especificidade da profissão, promovendo um envelhecimento ativo e uma saída digna da carreira docente, em linha com a importância do seu papel no sistema educativo.
Louco. Irascível. Temperamental. Surpreendente. César, um imperador entre compositores de música romântica, está literalmente absorvido pelos ditames da sua mais última encomenda. Sente-se inquieto. Os amarelados dedos da sua mão direita perderam a conta aos cigarros empunhados nos últimos dias na busca de uma inspiração momentaneamente sequestrada por uma rotina até então mais ociosa que o presumido.
Pela frente, um novo álbum para uma cantora de renome, sequiosa de homenagear as suas raízes de mulher do Douro. Foi perto da bacia hidrográfica daquele rio, portentosa manifestação da natureza que percorre mais de novecentos quilómetros desde a nascente nos Picos de Urbión, em Espanha, até à cidade do Porto, que a cliente bebeu a ambição de “um dia” alcançar a fama e o reconhecimento.
César, de tão consumido pela ausência de qualquer rasgo criativo que corresponda às telúricas expectativas da freguesa, decide arrendar casa na região. Acolhendo sugestão de um velho amigo, preferiu uma casa rústica, em granito e madeira - materiais da região - mas com todas as comodidades dos modernos refúgios. Foi no alpendre, com forno de lenha tradicional e piscina, bem perto de um jardim preenchido de recantos, que ordenou - aos berros de “não me f**** a relíquia!” - a colocação do seu admirável piano de cauda. Naquele instrumento de cordas repousam a história, o fabrico artesanal e a linhagem de desempenho que tanto procurou quando decidiu não resistir à loucura de o comprar por uns bons milhares de euros.
Escolheu aquele por ter o teclado de marfim, que melhor absorve o suor dos dedos e, assevera,”é mais suave ao toque em relação aos seus substitutos à base de polímetros”. Com o tempo, o marfim das teclas ficou amarelado. “Que se dane! – atirou em resposta quando confrontado por um par com aquela inevitabilidade, que – para cúmulo - também o esclareceu da proibição de utilização do marfim nos teclados já desde a década de oitenta. “F****-se todos!”, disparou incessantemente, com desabrida indiferença.
César acusou a necessidade experimentar o cheiro, a luz e a personalidade daquele punhado de natureza. Pagou a um experimentado produtor de vinho que o guiasse numa visita todo-o-terreno pelo meio daquelas regiões vinícolas, enfrentando com insolente espírito venturoso os seus vales íngremes e os cachões estreitos e selvagens.
Pressentiu naqueles solos derivados de xisto, naquela formação geológica de essência granítica, a dureza celebrizada pela sabedoria popular que garante “9 meses de Inverno e 3 meses de Inferno”.
Uma semana chegou para vislumbrar a singularidade de primeira região demarcada do mundo. Está exausto e nada lhe ocorre.
Mas foi nestes dias que se tornou um apreciador insaciável de uma casta que tem logrado ameaçar os seus equilíbrios. Encantou-se pelo “Esgana Cão” - um dos nomes da uva cerceal - uma casta que produz um mosto de vincada acidez e com elevado teor alcoólico.
Ontem, à medida que novas caixas foram chegando e as garrafas vazias se amontoaram, a linguagem arrastada foi balbuciando letras inusitadamente melódicas e o solto dedilhar das teclas de marfim fez o resto. Em pouco mais de oito horas sem qualquer tipo de pausa, grande parte da empreitada estava já em velocidade de cruzeiro.
O verão, já de malas feitas, apresta-se para abençoar outras terras do globo. Para quase todos, fica o travo amargo de umas férias que começaram tarde e acabaram antes do tempo.
No filme que a vida gravou para memória futura, ficaram quilómetros de estradas erráticas, de paisagens arrebatadoras celebrizadas por praias, montanhas, convívios e romarias que se viveram com o pasmo essencial de quem se deixa suspender pela surpresa dos instantes.
Finou-se aquele “dolce fare niente” da vida entregue ao ócio. Do ócio gratuito que (nos) relaxa sem necessariamente estupidificar.
Setembro, qual chave d’ouro, abençoa os seus apaniguados com um sol que a todos aperta com um calor porventura inusitado para a época. Com este tempo, não apetece nada quente.
Quimbé, trintão abrasonado por um celibato com benefícios, está de volta ao trabalho e também à cozinha. À cozinha onde ganha à vida à custa de uma “ementa verde” e são as saladas que o divertem porque qualquer recomeço – principalmente o que dita o regresso à rotina de sempre… - deve ser feito com coisas simples.
De lenço berrante amarrado à cabeça, inaugura os rituais que sacralizou para não desafiar a sorte. Há superstições que não descura. É melhor não afrontar o oculto. Entrar na cozinha com o pé direito para logo de seguida abrir e fechar todas as gavetas são ações de um protocolo que impôs a si mesmo.
Contudo, sente um vazio que o angustia e oprime. Uma ausência demasiado penosa, que não se ignora com um qualquer truque de algibeira para fintar o pensamento. Falta a Amiga, cadela de raça pequinês. Menos três quilos de gente que o preencheram na última dúzia de anos de uma forma que agora sente insubstituível. Os dois, com incumbências muito próprias, viviam à custa um do outro. Dois animais de hábitos que preenchiam espaços e atenuavam ausências. Uma cumplicidade desinteressada que aprofundaram sem exigências ou outras condições prévias.
Quis a vida que uma septicémia a levasse num par de dias. Todos os esforços e orações não chegaram para impedir o inevitável. Pediu-LHE que poupasse a Amiga. Propôs-LHE abdicar dos projetos mais queridos de vida só para não perder quem tanto bem lhe fez. Mas nenhum negócio foi feito. Chorou como quem perde, da noite para o dia, um pai ou uma mãe que aprendeu a amar e a estimar. Sentiu-se culpado. Perguntou-se “porquê a mim?!”
Impelido por uma dor sem remédio, quis água para afogar semelhante incêndio que lhe consumia as entranhas. Por isso, foi lesto a livrar-se de todos os objetos que eram SÓ da Amiga. E tudo ficou (ainda) mais desabitado.
A vida perdeu sabor e as divisões que ambos atravessavam estão hoje envoltas em recordações mil. Por vezes, ainda fala para a Amiga. Só depois se apercebe que está só.
Momentos há que, à semelhança do que acontecera com duas tentativas de fuga da fiel companheira, alimenta a tonta esperança de que afinal ela voltará a regressar “against all odds”. Adormecer e acordar são momentos de aflitiva solidão. Esgotou-se aquela patela inesgotável de cores, odores e movimentos que sempre teve por garantida. Revoltou-se. Conformou-se.
Fez o seu luto com a iniludível autenticidade de quem perdeu um dos seus. Suspira sincopadamente por desgosto, que já não quer ocultar ou disfarçar.
Mais do que nunca, esforça-se por encontrar uma forma de a homenagear, um ato que comemore tão assombrosa passagem pela sua vida. Como a Amiga era louca por morangos, Quimbé vai ensaiar uma salada daqueles frutos silvestres com tomates cherry.
Lavou uma dezena de morangos e de tomates cherry. Cortou-os ao meio e temperou-os com sal, pimenta, azeite e vinagre balsâmico. Esperou um quarto de hora e… voilá!
Concluído o derradeiro tributo. A “Salada da Amiga”. Como ela. Simples. Bastante. Incomparável.
PS - Uma muito humilde homenagem à QUICAS (1996 – 2012), a minha cadela, que adormeceu num sono eterno a 2 de setembro/2012.
O Dia Mundial da Música, celebrado a 1 de outubro, é uma homenagem à arte que transcende fronteiras, culturas e gerações. A música tem o poder de unir pessoas, de expressar emoções e de contar histórias que ressoam profundamente em cada um de nós.
Neste dia, celebramos os artistas, os compositores e todos os que dedicam as suas vidas à criação de melodias que embalam o mundo. Que a música continue um símbolo de paz, harmonia e inspiração para todos.