5 de Outubro | República à beira do abismo: entre a memória e a crise.

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Da utopia republicana à realidade cinzenta
O 5 de Outubro, outrora símbolo de esperança e renovação, tornou-se, em 2025, um espelho embaciado onde a República se contempla e hesita. O projeto de cidadania plena, justiça e modernidade, que inspirou a revolução de 1910, parece hoje ameaçado por uma erosão lenta, mas persistente, dos seus fundamentos. O diagnóstico é claro: a República portuguesa vive um momento de fragilidade estrutural, com uma governação refém de maiorias frágeis e de polémicas diárias, incapaz de responder com eficácia aos desafios do presente.
Fragilidades: o estado em modo de sobrevivência
O Serviço Nacional de Saúde permanece em crise, apesar de tímidas melhorias, e a execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) arrasta-se, com apenas 28% dos fundos aplicados a meio do ano, ameaçando comprometer o desenvolvimento futuro. A coesão social, outrora orgulho nacional, revela fissuras: o aumento da imigração, a incapacidade de resposta dos serviços públicos e a intranquilidade crescente alimentam o descontentamento e a desconfiança. O Estado, atolado em burocracia e falta de visão estratégica, parece limitar-se a gerir o imediato, adiando reformas essenciais.
Riscos: o desgaste da Democracia e o perigo da indiferença
O maior risco para a República não é o colapso súbito, mas o desgaste silencioso da confiança dos cidadãos nas instituições democráticas. Como sublinha a análise da Fundação Francisco Manuel dos Santos, Portugal distingue-se das restantes democracias europeias por níveis elevados de desconfiança, perceção de corrupção e afastamento dos cidadãos da participação cívica. A Democracia portuguesa, embora formalmente robusta, mostra-se vulnerável à erosão do seu capital social e à tentação de respostas autoritárias perante crises internas e externas.
Desafios: reconstruir a esperança, reforçar a cidadania
O futuro da República exige mais do que discursos inflamados ou celebrações ritualizadas. É urgente acelerar a execução dos fundos europeus, reformar o SNS, apostar na Educação e na Justiça, e, sobretudo, reconstruir o elo de confiança entre governantes e governados. A coesão social não se decreta, constrói-se: exige políticas inclusivas, combate à desigualdade e uma cidadania ativa, capaz de exigir transparência e responsabilidade. Em 2025, o maior desafio da República é salvar-se de si própria, reencontrando o sentido de pertença e de projeto coletivo que a fundou.
A República, para não se tornar apenas uma data no calendário, precisa de voltar a ser um compromisso vivo com o futuro.