"Circuito Fechado": onde o Poder circula sempre entre os mesmos
Em certas terras, há quem pense que os cargos públicos, os concursos, as eleições e a política devem rodar em circuito fechado – aquele condomínio exclusivo, reservado para os “digníssimos” com apelidos pomposos e, já agora, sempre os mesmos. Porque, claro, há nomes e sobrenomes que, por si só, são uma credencial de competência, não é? Parece que existe uma nobre missão: manter o poder bem acorrentado a estas linhagens, assegurando que ninguém venha perturbar “a paz”.
E o pretexto é sempre o mesmo: preservar o “bom nome da terra”. Como se qualquer candidato de fora deste ecossistema fosse um bárbaro à solta, pronto para destruir o tão estimado património local. Porque, convenhamos, trazer novas ideias e pôr gente com mérito no lugar certo é – sempre foi e será – algo perigosíssimo. E há sempre aquele esgar de indignação quando aparece um “intruso” a querer meter-se no circuito. “Quem é ele para ousar?”, cochicham com o t(r)emor que distingue os mesquinhos. “Um desconhecido!” Como se a competência tivesse passaporte e carimbo de nascença.
E estes contextos trazem-nos o quê? O cenário do costume. Temos os mesmos de sempre a desfilarem nos cargos, passando a “tocha” de pai para filho, de primo para sobrinho, numa sucessão digna de uma dinastia. E depois, claro, vêm falar de “bem comum”, de “legitimidade democrática” e de “continuidade”. Mas o que este circuito fechado garante é, na verdade, a continuidade da mediocridade – e, já agora, a satisfação de alguns egos e interesses particulares. Enquanto isso, a terra fica quietinha, estagnada, como peça de museu. Qual a necessidade de inovação? Para quê a transparência? Não, obrigado. Isso é para os outros. Aqui, o poder continua nas mãos dos nossos – ou como eles dizem, “de quem sabe”.
José Manuel Alho