Esta notícia, que parece não ter merecido o tratamento que a sua gravidade impunha, indicia um cenário preocupante de manipulação e de influência política durante um período particularmente sensível: a campanha eleitoral para as últimas legislativas. Alguns pontos, que deveriam ter feito disparar alguns alarmes, merecem destaque (e reflexão):
- O paradoxo do "investimento mínimo, impacto máximo" – Com apenas 12 mil euros (um valor quase simbólico em campanhas publicitárias de larga escala), conseguiu-se atingir cerca de dois milhões de contas, ou 22% do eleitorado português. Este facto levanta questões delicadas sobre o poder desproporcional das plataformas digitais quando usadas para influenciar decisões coletivas com poucos recursos financeiros. Até onde vai o "baixo custo" da democracia se este modelo triunfar?
- A legalidade posta de lado – A notícia aponta diretamente para a ilegalidade da operação, o que agrava a situação. Propaganda clandestina durante campanhas eleitorais, além de desonesto, subverte o princípio da igualdade entre candidatos e partidos. Quem fiscaliza? Quem pune? Ou será que, no oceano dos clicks e algoritmos, alguns já aprenderam que a punição é a exceção e o lucro é a regra?
- Impacto na democracia – Alcançar uma fatia tão grande do eleitorado com mensagens possivelmente enviesadas e sem a exigida transparência sobre quem está por trás, é uma afronta ao direito dos cidadãos à informação livre e fidedigna. Parece que estamos, cada vez mais, entregues ao julgamento das sombras – dos algoritmos e dos patrocinadores.
Resumindo: este episódio é um retrato fiel de como os mecanismos digitais podem ser usados (e abusados) para influenciar processos democráticos, expondo fragilidades éticas, legais e institucionais. O barato sai caro... e quem paga a conta? A Democracia.