Educação | a internet na Escola (1º Ciclo)
“A sociedade da informação e do conhecimento coloca novos desafios e exige de todos o domínio de novas competências. É imprescindível que camadas tão amplas quanto possível da população adquiram um conjunto de competências básicas em tecnologias da informação que lhes permitam, em última análise, um exercício pleno dos seus direitos de cidadania. (…)”
Decreto-Lei n.º 140/2001, de 24 de abril.
“(…) É necessário levar a cabo medidas efetivas que evitem a divisão da sociedade entre aqueles que têm acesso à sociedade da informação e aos seus benefícios e os outros que dela estão arredados. Para alcançar este objetivo, é indispensável um conjunto concertado de políticas do sector público que combatam este fenómeno de exclusão. Isto passa em primeiro lugar pela existência de condições de acesso nas escolas e pela formação no local de trabalho. (…)
(…) É fundamental dotar os portugueses, em particular os jovens em formação inicial, de conhecimentos básicos para o uso do potencial da informação e das tecnologias de informação, nas suas profissões ou atividades de lazer. (…)”
In Livro Verde Para a Sociedade da Informação em Portugal, 1997.
Do que está (ainda) por cumprir
PONTO PRÉVIO: As citações em cima, que enquadram o tema deste texto, não são inocentes nem são chamadas à colação por obra e graça do acaso. Ambas - uma de 1997 e outra de 2001 - atestam, apesar de algumas incursões bem intencionadas, o tempo perdido e o muito por cumprir em matéria de capacitação digital da nossa Escola Pública. Mais de duas décadas é, de facto, muito tempo!
A influência da internet nas práticas pedagógicas
A internet, como uma nova dimensão da humanidade, trouxe um impacto inquantificável, mas por certo muito mais revolucionária do que qualquer outra descoberta.
Optei por aqui abordar esta problemática porque sinto a crescente necessidade, a roçar a premência de um imperativo, de observar criticamente formas e meios de ensinar todo e qualquer aluno a avaliar e a gerir a informação que lhe chega. Assim, defendo que a prática pedagógica deverá também, neste domínio, assentar em quatro (decisivos) pilares, que valorizem a aprendizagem: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver em comum e aprender a ser.
Mais do que um espaço privilegiado para a construção sistematizada de conhecimentos, tenho para mim que a ESCOLA deverá aceitar ter como papel fundamental a incumbência de desenvolver nos alunos (e nos professores) o pensamento reflexivo de forma a sermos capazes de pensarmos em soluções criativas e com elas darmos resposta a problemas e desafios novos, que emergem na sociedade de forma exponencial.
Há alguns anos, as crianças brincavam com brinquedos tradicionais, para se divertirem, desenvolvendo desse modo a sua criatividade e as suas capacidades. Atualmente, as crianças, embora não tenham deixado completamente de utilizar os brinquedos tidos por tradicionais, começam, desde muito cedo, a ter acesso a diversos gadgets como fonte de lazer e diversão, e, cada vez mais, a sentirem-se atraídas pela internet, onde é valorizada a sua criatividade e imaginação pois, enquanto se divertem, aprendem a pesquisar nas longas autoestradas virtuais de comunicação, encontrando aí respostas para algumas das suas perguntas.
Mais do que nunca, é necessário acomodar o óbvio: a internet não tem só vantagens e que deve ser utilizada de uma maneira regrada, impedindo, assim, a criança de ter acesso a conteúdos que podem ser nocivos para o seu desenvolvimento. É fundamental que os petizes não sejam abandonadas em frente de um ecrã. Neste particular, a Família deverá estar igualmente habilitada a ser parte da solução. Em contexto de sala de aula, defendo, o docente deverá, por isso, ter o papel de educador, de dinamizador e de orientador da aprendizagem. Assim sendo, estaremos perante uma ferramenta de comunicação importante e singular, que cumprirá potenciar com método e ponderação.
Como referem Serge Pouts-Lajus e Marielle Riché-Magnier “... a simples navegação num universo desestruturado de informações não controladas nem validadas não pode ter, só por si, efeitos positivos em termos de aprendizagem. Todavia, se forem enquadradas num projeto educativo explícito, negociadas com o professor e resultarem em trabalhos individuais ou coletivos, a busca de informação e a coleta de documentos através da Internet podem revelar-se particularmente formadoras”. (Pouts-Lajus e Riché-Magnier, in A Escola na Era da Internet, 1999 :100)
A internet é, pois, um excelente meio de transmissão, aquisição e partilha de conhecimentos, de pesquisa, de descoberta de outras culturas e de aproximação entre pessoas unidas pela diferença, derrubando barreiras de sexo, idade, cor, distância, tempo, cultura e educação. Como bem aponta Teresa Almeida d`Eça, “A Internet abre e alarga horizontes, contribuindo para o desenvolvimento do que habitualmente denomino “elasticidade mental”, atributo necessário à nossa vida diária, pessoal, académica e/ou profissional”. (d`Eça, in NetAprendizagem, 1998:29)
Em consequência - e até muito por força da experiência do ensino remoto/não presencial imposta pela pandemia - reputo de imprescindível um processo de capacitação digital integral, harmonioso, exequível e sustentável para tod@s.
A internet como fator de motivação de alunos e professores
Como multimédia dinâmico, interativo e de renovação diária, terá que ser - se é que já não o será - cada vez mais utilizado na escola. Usá-lo significa aproveitar o seu potencial fascinante, como fator de motivação dos alunos e dos professores.
Nesta nova era em que o professor deixa de ser um agente informador, uma espécie de correia de transmissão do saber enciclopédico e passa a ter uma função mais rica e profunda – formar – entendo que lhe cabe dinamizar situações educativas que utilizem as novas tecnologias da informação e comunicação de forma eficiente, de modo que o ensino se torne dinâmico, instrumental e um fator de socialização. Em consequência - e até muito por força da experiência do ensino remoto/não presencial imposta pela pandemia - reputo de imprescindível um processo de capacitação digital integral, harmonioso, exequível e sustentável para tod@s.
Deste modo, afigura-se necessário que os profissionais da Educação tenham consciência que as tecnologias de informação e de comunicação no ensino multiplicam, entre outras, as possibilidades de pesquisa de informação, pois os equipamentos interativos e multimédia colocam à disposição dos alunos uma fonte inesgotável de informação, permitindo-lhes tornarem-se exploradores ativos do mundo que os envolve.
No entanto, todas estas maravilhas só terão impacto na Educação se os professores estiverem formados para lidar com estas tecnologias de forma a permitirem aos seus alunos uma navegação com segurança, bem como fazê-los perceber que, para viajar pela net, acedendo à informação e ao conhecimento, existem regras de ética e comportamento para respeitar no ciberespaço.
Este é, na verdade, um recurso facilitador do processo de ensino e da aprendizagem, propondo aos alunos contextos mais atrativos, mais motivadores e mais desafiantes. O facto de, por exemplo, combinar texto com imagem, som e/ou animação, torna-a atraente e apelativa. Para os alunos, como refere Teresa Almeida d`Eça, assoma-se um novo paradigma “...porque a Internet/web é um meio de comunicação “novo” na escola, que proporciona vivências e experiências absolutamente inéditas”. (d´Eça, in NetAprendizagem, 1998:40)
Quando um aluno recorre, determinado, à internet para nela surfar com o propósito de pesquisar informação sobre algo a que a vida quotidiana tenha emprestado o estatuto de “assunto interessante”, que “até vem nos livros”, deve o professor estar preparado e sensibilizado para perceber que estarão reunidas as condições para a viabilização de uma aprendizagem motivadora porque a integração e a aplicação de conhecimentos a casos concretos da vida real, além de (ainda) rara em algumas das nossas escolas, terá sempre o condão de aproximar a escola ao mundo real. A interatividade põe os alunos a comunicar entre si, com os professores e com outros agentes educativos relevantes. Ela aproxima os alunos daquilo que os rodeia, da sua realidade mas também de outros universos. Ela implica dinamismo, mudança e adaptação, atributos que cumpre promover e incutir harmoniosamente.
Desenvolver a capacidade de resolução de problemas
Atividades de pesquisa na web, insisto, permitem desenvolver a capacidade de resolução de problemas, pois recorrem a situações reais e atuais, aspeto essencial, que deve ser priorizado, para a adaptação a um mundo em constante mudança.
Em vez de criar meros recetores passivos de informação em massa, produz - se o processo for antecedido de uma planificação acurada - emissores e produtores ativos de conhecimento integrado.
Já se sabe que a web permite o acesso instantâneo à informação, e a uma enorme capacidade de escolha que tem de ser (muito) bem feita, pois o bom e o mau, o verdadeiro e o falso andam lado a lado. Em consequência, o professor terá de recorrer aos melhores instrumentos de pesquisa. E será aí que o domínio da utilização dos motores de pesquisa na internet, chave para uma utilização eficaz dos recursos do www, exigirá um bom conhecimento de cada um deles.
Como professor, que sabe não estar só, que sente ter dúvidas e partilhar receios extensivos a muitos colegas, a internet abre igualmente novas janelas, através das quais também eu (já) posso trocar conhecimentos, ideias, planos de aula, projetos, enfim, aprender com os outros, o que ajudará a aperfeiçoar estratégias e métodos de ensino. Sei que tenho à disposição uma autêntica via verde de/para atualização permanente de conhecimentos, formação contínua e aprendizagem para toda a vida.
Este texto não passa, ressalvo, de um modesto contributo de um professor no terreno, gizado a pensar nos alunos, a perspetivar abordagens que sirvam o desiderato maior de lograr orientar, desde a primeira infância, para o uso e para o papel do universo digital na Educação e, por conseguinte, na vida das crianças. Na faixa etária do 1º Ciclo (6 - 9/10 anos), os alunos possuem muitas curiosidades e aceitam, com facilidade, a realização de diferentes atividades e desafios, evidencia que deve ser otimizada para fomentar aprendizagens significativas.
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