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O Banquete

A República de Platão é o livro mais conhecido do filósofo grego. Contudo, em "O Banquete", também conhecido como Simpósio, Platão vai discutir as naturezas do amor e da alma.

Educação | Lá, onde o bom senso chora

15.09.22 | Servido por José Manuel Alho

 

Delia Owens estaria longe de imaginar o quotidiano do professorado em Portugal quando, em 2018, batizou a sua história de amor e solidão.

Na verdade, nunca os docentes, neste retângulo à beira-mar deixado, protagonizaram tão agonizante enredo de amor e solidão. De amor e desprezo. De amor e abandono. De amor e desesperança.

Nunca os momentos que marcam o encerramento e a abertura dos anos letivos estiveram tão desalinhados do essencial. 

No fecho das atividades letivas, em julho, sobram solicitações iníquas e absolutamente despropositadas, que, sem o mínimo rasgo de imaginação, priorizam a reflexão - não há classe profissional, em Portugal, que reflita tão intensamente, durante doze meses, como a docente! - e a conceção de toda a sorte de grelhas e grelhados que ninguém lê pois só o arquivo morto as poderá acomodar.

Os professores devem ser tratados como recursos HUMANOS, que carecem de motivação e de reconhecimento porque não falta quem os desvalorize. Não são máquinas nem peças da engrenagem desprovidas de emoções e de sentimentos. Mais do que nunca, os docentes, sem o amparo da tutela e dos grandes sindicatos, precisam de carinho.

À semelhança do que acontece com outros especialistas, altamente qualificados,  o Tempo é o bem mais precioso dos docentes. E nunca como agora se brincou tanto com o tempo dos professores. A reunite e os grelhados a granel estão a distorcer o exercício da função docente.

Encerrados em salas onde sente a chegada do verão, sobrepõem-se reuniões e painéis, que, na sua maioria, poderiam ser evitados com a redação de dois parágrafos, vertidos num seco mas inequívoco email.

Exaustos e vergados pelas tropelias de um ano letivo sem uma pinga de rotina e previsibilidade, os professores são ainda constrangidos a conceber, ao cair do pano, um punhado de documentos, supostamente orientadores, que terão de ser revisitados em setembro por outros colegas, mobilizados na sequência posteriores concursos. Também eles terão, mais tarde, de refletir sobre o trabalho deixado e aduzir as suas propostas.

Sucedem-se as reuniões para refletir sobre a reflexão anterior tendo em vista reflexões futuras. O mesmo se passa com os procedimentos de avaliação e de articulação, que impõem um rosário adicional de avaliações e de articulações consecutiva e tendencialmente redundantes.

No arranque de novo ano letivo, engendram-se reuniões para novas ordens de trabalho, com terminologias catitas, onde os monodocentes (do Pré-escolar e do 1.º Ciclo) são forçados a marcar presença, mesmo sabendo-se, à partida, que não serão tidos e achados para os assuntos a tratar. Como Cristo, percorrem a sua via-sacra de reuniões mal-preparadas, sem ponta de utilidade ou mais-valia. A este propósito, alerta-se, cresce, em grande número de unidades orgânicas, a insensibilidade e a intolerância à especificidade do 1.º Ciclo.

Parece ganhar terreno a corrente de que um bom professor é aquele que participa em numerosas reuniões e preenche múltiplas de grelhas e sucedâneos. Lamento desiludir os mais (se)ceguidistas, mas isso não é verdade. Bem pelo contrário. Mas MUITO pelo contrário! Este modelo de Escola, aliás, não está pensado para dimensionar os BONS professores.

A situação a que chegámos está amplamente contextualizada. De nada vale enveredar por ceder à tentação de transmitir a vibe de que a Escola é bué moderna, aberta a cenas maradas e convidar uns artistas, que, em tom de ralhete regado numa tasca chunga, se permitem destratar os professores, polvilhando o seu discurso com ignorância e preconceito q.b..

Os professores devem ser tratados como recursos HUMANOS, que carecem de motivação e de reconhecimento porque não falta quem os desvalorize. Não são máquinas nem peças da engrenagem desprovidas de emoções e de sentimentos. Mais do que nunca, os docentes, sem o amparo da tutela e dos grandes sindicatos, precisam de carinho.

À semelhança do que acontece com outros especialistas, altamente qualificados,  o Tempo é o bem mais precioso dos docentes. E nunca como agora se brincou tanto com o tempo dos professores. A reunite e os grelhados a granel estão a distorcer o exercício da função docente.

Das duas uma: ou a tutela premeia ou penaliza os desvarios que se vão conhecendo. Premeia porque é do seu interesse sodomizar uma classe em concreto. Ou penaliza quem a sodomiza, com impune leviandade. Num  país normal, dito de civilizado, esperar-se-ia que a tutela cortasse a direito em favor do óbvio...

O amor dos professores aos alunos, à Escola pública - que a sustentaram, do seu bolso, nos anos da pandemia - e às respetivas comunidades está ser ferido pela solidão, pelo desprezo, pelo abandono e pela desesperança.

A Educação em Portugal não pode ser uma realidade longínqua ao comum dos contribuintes. Lá, onde o bom senso chora, resolve-se o futuro do país.

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