Ensino | pensamentos e reflexões sobre Avaliação (V)
Alunos Passivos/Alunos Ativos
A) O meu pensamento sobre avaliação? Como se alinha com os princípios que regulam a minha ação docente?
O meu pensamento sobre avaliação evoluiu à custa de descobertas, constatações e de experimentados aclaramentos. Como bem notou António Nóvoa, “vivemos tempos de grandes incertezas, de dúvidas, de hesitações.”
Mas é nesta conjuntura incerta e pouco dada a definições concludentes, que secundo o imperativo do autor, firmado na enunciação “é essencial manter as convicções”.
Há muito que se afigura premente refundar a Escola. Para o autor, sobressaem três elementos para a refundação pretendida: a Pessoa, a Partilha e a Prudência. Sem se deter, destaca António Nóvoa: “os colegas de João Pessoa acrescentaram, à cabeça, Currículo e Docência. Talvez se pudesse dizer, em vez de Currículo e Docência, Currículo e Decência, porque é de uma vida decente, de uma vida escolar mais decente.” – sentenciou.
Estou, por isso, inteiramente alinhado, em matéria de avaliação, com os princípios aduzidos para esta refundação da Escola.
Para prosseguir tal desiderato, importará priorizar “uma teoria da PESSOA”, que parece estar em déficit. Uma abordagem que “ajude a compreender as pessoas na sua singularidade e diversidade, contribuindo para o reforço dos professores na sua inteireza, como pessoas e como profissionais, como profissionais e como pessoas.”
O autor ressalta, em complemento, a dimensão da partilha, “cada vez mais essencial numa escola que tem de cuidar de alunos tão diferentes e que, para isso, necessita de professores habituados ao diálogo, à relação com o outro, ao trabalho coletivo, à consolidação de rotinas e culturas profissionais baseadas na cooperação”. Uma visão que colhe, quanto mais não seja pelo seu pragmatismo tão fulgurante quanto o devir dos tempos.
Chegado o lugar da prudência - num duplo sentido, social e científico – o autor recupera a premência de refundar a Escola, asseverando que “a escola falhou muitas promessas, mas também cumpriu alguns desígnios.”
Revejo-me quando António Nóvoa previne que “o debate não pode ficar fechado nos interesses das famílias ou dos alunos, nas necessidades da economia ou da sociedade, nas posições do Estado ou das comunidades locais, nos pontos de vista dos professores ou dos especialistas.”
Ademais, o autor reúne consenso quando, sobre a Pessoa, lembra que “Faltou-nos, insisto, um entre-dois, uma teoria da pessoa-aluno (das pessoas-alunos), isto é, das crianças em situação escolar de aprendizagem.”
Concentrando-nos na pessoa e na formação de professores, subscrevo, sem rebuço de qualquer índole, a sacralização da dimensão humana e relacional do ensino. Em função da qualidade desta reação, poderá assomar-se a urgência de termos professores que sejam pessoas inteiras, uma espécie de empowerment, um reforço de poder tão necessário para os docentes.
Ainda a respeito da partilha, António Nóvoa insurge-se “contra a infantilização da escola, contra a comunitarização da escola” em favor de “uma enorme vigilância crítica para que estes expedientes não se transformem, pouco a pouco, na essência da escola.” Como ele, entendo, sem margem para concessão ou negociação, que “não devemos nunca esquecer a dupla matriz da escola: lugar de partilha do saber e lugar de aprendizagem das regras da vida em sociedade.”
A partilha e a formação de professores, se traduzidos na partilha de saberes e de práticas de trabalho cooperativo, consumam, para Nóvoa, a ideia de uma “escola aprendente, isto é, da escola como o lugar da formação dos professores”, onde se eleva “uma teoria do coletivo, da docência como coletivo”, uma teoria gizada no “espaço de um conhecimento partilhado, mas também no espaço de uma ética partilhada.”
Segue-se a prudência. Circunscreve António Nóvoa: “Sobre a prudência, sobre a decência, sobre a necessidade de um conhecimento prudente para uma vida decente (Boaventura de Sousa Santos).” Assegura que “não é possível fazer educação no cinismo: ninguém pode ensinar, de facto, se não acreditar que vale a pena ensinar aquilo que está a ensinar, que aquilo que está a ensinar tem um valor para os seus alunos. Importa, por isso, que o debate traga uma lucidez crítica sem nos arrastar para a resignação.” E é também nessa lucidez crítica que comungo da urgência de uma decência que nos devolva à inquietação dos prudentes que, todos os dias, nas suas escolas, com os seus alunos, protagonizam rasgos de consciente libertação.
E o que querem eles/nós? Que se aposte no que vale a pena ser ensinado. Socorro-me também da célebre frase de Olivier Reboul: “Vale a pena ser ensinado tudo o que une e tudo o que liberta.”
Daí que seja do interesse coletivo uma conceção radicalmente nova do currículo, devendo valorizar-se – como, aliás, muito bem fez António Nóvoa – a visão de António Damásio quando explica que, sem emoções não é possível tomar decisões, não é possível mobilizar um pensamento racional.
Conjugando a prudência com a formação de professores, o autor reconhece que “estamos perante a necessidade de reforçar os professores como conhecedores, isto é, como produtores de conhecimento. E é por isso que são tão importantes as estratégias de formação de professores baseadas na investigação.”
Concordo. É uma exortação que “exige mestria, competência e tato pedagógico. A organização das situações de aprendizagem, a progressão dos alunos ou a conceção de dispositivos de diferenciação pedagógica são tarefas muito complexas.”
Na verdade, ensinar só é fácil para quem nunca entrou numa sala de aula.
Aceito que, “por vezes, que o ensino é simultaneamente o trabalho do coração (da emoção, da empatia) e o trabalho da razão (da racionalidade, do intelecto).”
Assim sendo, associo-me, por inteiro, a António Nóvoa no reconhecimento de que “Escolhemos a mais impossível de todas as profissões. É certo. Mas ao mesmo tempo a mais necessária.”
B) Sugestões de foco: o que observar nos alunos? E como usar essa informação recolhida? Que tipologia de questões formular aos alunos? Quanto tempo lhes dar para responder? Que estratégias usar para aprofundar as questões dos próprios alunos?
No atual momento da minha carreira, observo desempenhos, atitudes e valores.
Acolho e integro a informação daí resultante, principalmente a que resulta do erro cometido, para fomentar o interesse e o progresso dos alunos. Esforço-me para que sejam protagonistas (ativos) das suas aprendizagens. Daí que opte por diversificar e diferenciar abordagens, disponibilizando feedback enquanto (ainda) há tempo para agir sobre as aprendizagens e para que os alunos saibam e compreendam os objetivos da aprendizagem – o que é suposto aprender.
Recorro a questões que convidem e evolvam os alunos nos seus processos de aprendizagens, segundo uma cultura de interação, que aprofunde as questões suscitadas pelos meus alunos, com momentos de prolongamento/desenvolvimento, de debate e de argumentação dimensionados à escala da sua faixa etária.
Recordo, em consequência, uma atividade que dinamizei com os alunos, deliberadamente extensiva aos seus agregados familiares. Um trabalho de projeto centrado na pesquisa e recolha de informação sobre o passado da nossa terra/localidade.
Nos termos da proposta inscrita na planificação de Estudo do Meio (3.º Ano), foram criados 6 grupos a quem foram atribuídos 6 temas para investigação.
Na verdade, o trabalho de grupo é um instrumento pedagógico poderoso para uma aprendizagem ativa e participada, mas por vezes é menosprezado e nem sempre utilizado da forma mais adequada. O SPRinG (Social Pedagogic Research into Group work, i. é., um grupo de Investigação Pedagógica e Social sobre Trabalho em Grupo no Reino Unido) tem dedicado a sua atividade ao estudo e análise das funções e vantagens do trabalho em grupo. Por isso, esforcei-me por observar criteriosamente o essencial das suas recomendações:
- A divisão em grupos teve uma motivação estratégica e foi usualmente flexível. Levou em consideração as capacidades das crianças que comigo trabalhavam há já mais de dois anos, as relações de amizade entretanto estabelecidas, as suas personalidades e os diversos estilos de trabalho.
- Este trabalho de grupo foi concebido para maximizar as interações pois são elas que levam a resultados efetivos.
- A orientação feita instigou os alunos reunir algumas competências sociais, de comunicação e de resolução de problemas necessárias para que haja um trabalho de grupo efetivo. No essencial, era decisivo que as crianças entendessem o que é estar envolvido num grupo e praticassem a tolerância, a confiança, o respeito mútuo e sensibilidade aos outros. Até porque as atividades em grupo ajudam também a ver situações a partir das perspetivas dos outros.
- Os adultos deveriam apoiar o trabalho de grupo para que se obtivessem resultados positivos. Neste particular, o alargamento desta empreitada aos Encarregados de Educação foi crucial. E a eles se deveu, em grande medida, a realizada deste trabalho de projeto.
- As tarefas e atividades feitas em grupo foram pensadas estrategicamente visando o desenvolvimento de níveis mais elevados de pensamento e de aprendizagem.
- O trabalho em grupo foi estendido a todo o currículo em vigor na altura. As tarefas que facilitaram o trabalho em grupo incluíram: resolução de problemas, discussão de ideias, tomadas de decisão, tarefas que envolvam a partilha de informação, pesquisas sobre um tema, recolha de dados.
Otimizando também o trabalho realizado no âmbito das TIC (Oferta Complementar), os trabalhos foram vertidos em suporte digital para publicação no blogue EDUcativo Cais da Escrita aqui[1], aqui[2], aqui[3], aqui[4] , aqui[5] e aqui[6].
[1] Disponível em: https://caisdaescrita.blogs.sapo.pt/trabalho-de-projeto-do-3-o-b-da-eb-de-52273
[2] Disponível em: https://caisdaescrita.blogs.sapo.pt/trabalho-de-projeto-do-3-o-b-da-eb-de-52136
[3] Disponível em: https://caisdaescrita.blogs.sapo.pt/trabalho-de-projeto-do-3-o-b-da-eb-de-51607
[4] Disponível em: https://caisdaescrita.blogs.sapo.pt/trabalho-de-projeto-do-3-o-b-da-eb-de-51400
[5] Disponível em: https://caisdaescrita.blogs.sapo.pt/trabalho-de-projeto-do-3-o-b-de-52500
[6] Disponível em: https://caisdaescrita.blogs.sapo.pt/trabalho-de-projeto-do-3-o-b-da-eb-de-50962
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