Entrevista do Ministro da Educação: finou-se o benefício da dúvida!
Com a autoridade de quem ousou conceder o benefício da dúvida ao novo Ministro da Educação, sinto-me particularmente à vontade para, agora - e depois da sua entrevista ao "Expresso" - confessar a minha profunda desilusão e antecipar, com fundamento, quatro anos de acentuada degradação do setor.
A entrevista rebenta com a mais ténue esperança de regeneração da política educativa seguida desde Maria de Lurdes Rodrigues. É, genuinamente, desastrosa, mas reveladora.
A entrevista não é uma infelicidade. É uma escolha. É a reafirmação do caminho que nos conduziu à situação presente. E é nessa medida que, todos, se devem preparar para o pior.
Desde as toscas tentativas de torturar os factos, assomou-se o intolerável atrevimento de, uma vez mais, atacar os professores, principalmente, quando afirmou "os professores foram formados para dar aulas só a bons alunos" (sic). Tal conclusão, além de falha de prova, só pode resultar - numa abordagem bondosa - de um entendimento de bolha, que apenas subsistirá à margem da realidade da escola pública portuguesa.
Imagine-se a Ministra da Saúde vir a terreiro assegurar que "os médicos foram formados para tratarem só de pessoas saudáveis"?!
De resto, a integralidade da entrevista já foi suficientemente analisada pelo que se afigura desnecessário novas apreciações.
No mais, fica a convicção de que não haverá vontade para atacar a falta de atratividade da carreira docente, consubstanciada nos garrotes à progressão e no apagamento de mais de 6 anos de serviço efetivamente prestado. Entre apelos à resignação e a propositura de atalhos para suprir a crise de profissionais legalmente habilitados para a docência, sobra a impressão de que não haverá horizonte de esperança para os professores portugueses.
A entrevista não é uma infelicidade. É uma escolha. É a reafirmação do caminho que nos conduziu à situação presente. E é nessa medida que, todos, se devem preparar para o pior.
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