"Ninguém é bom nem mau. Somos todos, principalmente, conforme"
"Ninguém é bom nem mau. Somos todos, principalmente, conforme" (Machado de Assis)
Ensinar além do conformismo
Esta é uma das mais famosas e inspiradoras frases da literatura brasileira, atribuída ao escritor Machado de Assis, no seu livro "Memórias Póstumas de Brás Cubas" que, desde o meu primeiro ano de estudante na Universidade de Aveiro, me inspirou e até hoje se mantém como uma interpelação diária à minha condição de Professor. Aliás, até consta do meu Perfil neste blog.
A frase de Machado de Assis, “Ninguém é bom nem mau. Somos todos, principalmente, conforme”, soa de maneira inquietante quando transposta para o universo da Educação. No ensino, os alunos não serão apenas "bons" ou "maus" estudantes, mas sim reflexos do contexto que os moldam desde tenra idade: a sala de aula, o professor, a escola, a família, a sociedade, entre outros. O seu desempenho e o seu comportamento são, em grande medida, "conformes" às condições que lhes são oferecidas ou impostas.
Enquanto professores, cabe-nos perceber que ensinar não é um ato que se confine à mera transmissão de conteúdos e de conhecimentos, mas um processo iminentemente relacional e contextual. A Psicologia da Aprendizagem explica esta verdade de forma particularmente sustentada. De facto, é (muito) fácil rotular um aluno como “difícil” ou “excelente”, mas essas classificações, habitualmente simplistas e redutoras, ignoram a complexidade de cada indivíduo. Um estudante, seja ele criança ou jovem, que aparente desinteresse ou alheamento, pode estar a enfrentar desafios invisíveis, enquanto outro, aparentemente aplicado e comprometido, pode esconder fragilidades profundas e absolutamente inimagináveis.
É aqui que os professores são convocados para se assumirem como agentes de mudança num contexto iniludivelmente singular e desafiante. Deveremos, por isso, indagarmo-nos: como é que a sala de aula se poderá conformar às necessidades dos meus alunos? Estarei a proporcionar oportunidades equitativas para que todos possam progredir? Em boa verdade, reconhecer que a aprendizagem é também um espelho de circunstâncias diversas e complexas implica a assunção de um compromisso ético com a transformação do meio educativo.
Por isso, a máxima de Machado de Assis, confesso, lembra-me todos os dias que ensinar é, antes de tudo, um esforço de compreensão e de adaptação, para que os alunos possam rebelar-se contra fatalidades mal explicadas, dotando-os das ferramentas e da motivação necessárias para transcenderem as limitações que os envolvem.