Professores ameaçados, silenciados e abandonados: a vergonha do bullying docente
O recente inquérito do movimento Missão Escola Pública lança um alerta gravíssimo: mais de metade dos professores em Portugal já foram vítimas de bullying, mas a maioria sofrerá em silêncio. O dado é avassalador e expõe um ambiente de trabalho hostil, onde ameaças, coação e agressões físicas se tornaram parte da rotina. Quando um professor relata ter sido ameaçado com uma arma de fogo e a resposta institucional terá sido o silêncio, fica claro que o problema deixou de ser um desvio pontual para se tornar um sintoma de colapso do sistema educativo.
Sinais/campainhas de alarme
- Agressões normalizadas: O facto de a maioria dos professores já ter sofrido bullying demonstra que a violência contra docentes não é um caso isolado, mas um padrão em perversa generalização.
- Baixas médicas em alta: 15% dos professores já estiveram de baixa devido ao bullying, o que agrava, ainda mais, a carência de docentes no país.
- Medo de denunciar: Apenas 18% dos professores reportaram os incidentes, citando a falta de apoio das direções e o desamparo institucional.
- Coação e intimidação generalizadas: Mais de 43% dos docentes sofreram coação profissional, com direções escolares a pressioná-los para atribuir melhores notas e aceitar sobretrabalho forçado.
- Alunos como principais agressores: A violência não parte apenas dos estudantes, mas também de pais, colegas e direções escolares, revelando um problema estrutural de absoluto desrespeito pela classe docente.
A quem compete inverter esta situação? A responsabilidade recai diretamente sobre o Ministério da Educação, as direções escolares e as autarquias, mas também sobre a sociedade como um todo. Se permitirmos que os professores sejam tratados como alvos fáceis, estaremos a hipotecar, de forma criminosa, a qualidade da Educação e a dignidade da profissão.
Medidas urgentes e eficazes
- Reforço da autoridade do professor: Apesar de já ter sido prometida, urge criar legislação clara que garanta respeito e punição efetiva para agressões verbais e físicas contra docentes.
- Gabinetes jurídicos municipais: Professores precisam de acesso imediato a aconselhamento legal para que denunciem abusos sem medo de represálias.
- Presença de vigilantes nas escolas: A figura do vigilante nos recreios e corredores, nas escolas de todos os níveis de ensino, é essencial para prevenir e conter episódios de violência.
- Campanha nacional de sensibilização: Assim como existem iniciativas contra o bullying entre alunos, é necessário – repito o que já aqui defendi em numerosas ocasiões – combater o bullying contra professores, mudando mentalidades.
- Supervisão externa das direções escolares: O abuso de poder por parte das direções deve ser monitorizado e sancionado.
Em conclusão, o que este inquérito revela não é apenas um problema de violência nas escolas, mas um estrondoso falhanço sistémico na proteção dos professores. Quando quem ensina e forma gerações é tratado com desdém e medo, toda a sociedade perde. A passividade das autoridades terá de ser substituída por ação imediata e inequívoca. Professores silenciados significam um ensino enfraquecido – e um futuro comprometido. Está na hora de dar resposta ANTES que a profissão docente se torne uma sentença de desgaste e abandono.