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O Banquete

A República de Platão é o livro mais conhecido do filósofo grego. Contudo, em "O Banquete", também conhecido como Simpósio, Platão vai discutir as naturezas do amor e da alma.

Revisão Curricular: um exercício de transparência ou um salto no escuro?

09.12.24 | Servido por José Manuel Alho

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Imagem Freepik | meramente ilustrativa

No encerramento do 42.º Congresso do PSD, que decorreu este fim de semana em Braga, o primeiro-ministro e líder social-democrata anunciou que o Governo vai rever os programas do ensino básico e secundário, incluindo a disciplina de Educação para a Cidadania.

O anúncio do primeiro-ministro de rever os programas do ensino básico e secundário poderá ser um exemplo emblemático da desconexão recorrente entre a intenção política e a operacionalização pedagógica. A ausência de detalhes sobre como essa revisão estará a ser conduzida é preocupante, pois sugere uma falta de transparência que compromete a confiança no processo. Como observou António Nóvoa, pedagogo que estimo e considero, “a construção de currículos é um exercício coletivo, e não um ato de gabinete”.

Esse “exercício coletivo” exige a participação ativa dos professores, profissionais que vivem diariamente os desafios das salas de aula e conhecem, como ninguém, o impacto real de programas pouco ajustados, que têm surgido de derivas vincadamente experimentalistas. Deixar estes agentes de fora, convidando-os somente a responder a inquéritos de diagnóstico, é negligenciar o saber acumulado no terreno, substituindo-o por visões muitas vezes elaboradas por elites universitárias. Estas, frequentemente acusadas de viver numa bolha, têm produzido documentos desfasados das necessidades concretas do sistema educativo, até porque como, em devido tempo, destacou a professora e investigadora Ana Benavente: “A distância entre a academia e a escola é um dos maiores obstáculos à mudança educativa”.

Além disso, a inclusão da Educação para a Cidadania nesta revisão antecipa possíveis alterações numa disciplina já de si controversa. Qual será o impacto? Será uma revisão técnica e pedagógica ou uma interferência ideológica? Sem clareza e sem auscultação, corre-se o risco de aprofundar as clivagens em vez de promover consensos.

O momento exige transparência, diálogo e humildade política para construir programas que sejam não apenas inovadores, mas também realistas e exequíveis. Afinal, como afirmou Nóvoa, "os professores não são meros executores de ordens; são construtores de aprendizagens".