Uma caminhada feita de horizonte: memórias de liderança e esperança

Com as eleições próximas, é tempo de refletir sobre caminhos já trilhados, em busca de inspiração para continuar a construir um futuro comum, com esperança e compromisso.
Novos Tempos, Novos Ventos: a luz que ficou
Há noites em que uma sala cheia não é apenas o som da multidão: é o rumor da esperança. Volto à imagem da reunião em Valmaior, 2017. É um instantâneo que irradia significado, não pelo resultado das urnas, mas pelo que ainda permanece, muito depois dos aplausos e dos discursos terem cessado. O tempo passado não apaga o brilho do que ali se viveu, da paixão partilhada, da genuinidade com que, como cabeça de lista independente pelo PSD, me entreguei à política, não como simples disputa, mas como missão humanista.
Rever a fotografia, ver as pessoas erguerem cartazes, sentir o pulso desse momento, leva-me à verdade simples, mas poderosa: as campanhas são feitas de sonhos e, mesmo quando não atingem o seu objetivo, deixam marcas fundas em quem as viveu. “A mudança vai acontecer com a participação das pessoas”, escrevi no meu post na véspera das eleições, ainda com o ardor de quem acredita, e continuo a acreditar, que a cidadania é a última esperança contra a indiferença.
A caminhada foi longa e serena. Encontrei, nas ruas, amigos e desconhecidos, cada qual com um desejo distinto, mas todos movidos pela convicção de que Albergaria merece mais, merece melhor. Foram semanas intensas, de propostas debatidas, agendas impulsionadas, de lealdade e correção, como a ética exige. O respeito teve sempre lugar na mesa da política, mesmo nas horas duras e nos debates acesos. Tal como sublinharam muitos apoiantes e cidadãos: “vocês trouxeram ideias novas e uma energia contagiante, mobilizando freguesias inteiras para acreditar que Albergaria pode ser diferente.”
E isso é o que resiste à erosão dos dias: não as vitórias administrativas, mas os gestos de quem, voluntariamente, caminhou ao nosso lado. Os depoimentos chegam ainda, como correio atrasado, mas bem-vindo, lembrando-me da dignidade daqueles que fizeram parte da onda: “Nunca vi um movimento tão concreto e positivo. Cada visita, cada proposta, só reforçava que estava do lado certo: com quem quer devolver esperança e transparência à autarquia.” Foram palavras públicas, partilhadas na chama viva das redes sociais, mas também nos silêncios cúmplices das reuniões e nos olhares nos cafés da terra.
Hoje, longe do tumulto eleitoral, consolidou-se uma comunidade melhor, mais desperta, mais exigente consigo e com os seus representantes. E isso, contrariamente ao que os céticos insistem em proclamar, é uma conquista real. A política é um exercício de futuro, mas também um mergulho no presente: depende da generosidade de quem se dá e da perseverança de quem acredita. Quem connosco caminhou sabe: cada proposta era pensada com a responsabilidade de devolver às populações um horizonte de esperança. Se a mudança não chegou naquele domingo, chegou no compromisso de continuar, todos, albergarienses, na segunda-feira seguinte. E em todos os dias que se seguiram.
Volto à foto. Vejo mãos erguidas, rostos expectantes. E sinto apenas gratidão. Uma grande caminhada não se mede pelo número de votos, mas pelo número de corações tocados.
Caminhar (mesmo quando o caminho é duro)
Na antevéspera das eleições, escrevi que a nossa campanha fora "uma onda que varreu o concelho de norte a sul", marcada por lealdade, correção e elevação. Revisito este momento em busca do que há de mais nobre: não os votos contados à pressa, mas o impacto genuíno nas comunidades, o orgulho de ter imposto a agenda, liderado nas propostas e, sobretudo, devolvido esperança aos habitantes de cada rua, de cada freguesia.
Desengane-se quem julga que só a vitória é digna de registo. A grandeza mede-se pela coragem de continuar. Na segunda-feira pós-eleições, como escrevi então, "continuaremos, todos, albergarienses", porque o compromisso com a causa pública não conhece cronologias eleitorais, resiste, teimosamente humano, nos gestos e nos projetos que ficam. O percurso autárquico é uma maratona ética, não um sprint mediático.
Como escreveu Hannah Arendt, “a política baseia-se no facto da pluralidade dos homens” (The Human Condition, 1958). E foi essa pluralidade que me guiou: a diversidade de rostos, de vozes, de vontades, que se encontraram num mesmo propósito de mudança.
Testemunhos de um caminho
Crónicas da época e testemunhos de quem privou comigo apontam a integridade, a genuinidade do apelo à participação popular e a capacidade de mobilizar pela positiva. Esse reconhecimento deu lastro à caminhada, mas foi o calor do debate e o pulsar dos encontros com as populações que moldaram verdadeiramente esta jornada. A ausência de memória de uma onda igual só pode traduzir esta simbiose extraordinária entre os candidatos e o concelho.
No final, permaneceram as sementes deixadas em cada localidade, os horizontes partilhados e uma ideia impenhorável: a política é feita de pessoas e para pessoas. E, se assim for, nunca é - nem será! - tempo perdido.
A política, como bem sublinhou Norberto Bobbio, “é a arte de governar homens livres” (O Futuro da Democracia, 1984). E governar homens livres exige escuta, coragem e uma ética que não se rende ao cálculo.
Que este testemunho possa também inspirar cada cidadão a ser parte ativa na vida do concelho, porque a democracia nasce e floresce em cada gesto de participação.
O tempo tem o seu próprio ritmo. E há caminhos que, mesmo quando parecem ter terminado, apenas aguardam o momento certo para recomeçar. Não estou, mas nunca estive ausente. Quem sabe ler os sinais, sabe que há silêncios que preparam palavras. E há causas que não se esquecem: apenas se guardam, como sementes à espera da estação certa.
Com a aproximação das eleições do próximo domingo, é fundamental que cada albergariense tenha presente o seu papel ativo e consciente. O voto é a ferramenta mais poderosa para moldar o futuro do nosso município. Por isso, o meu convite sincero a todos é que participem. Que façam ouvir a sua voz nas urnas com liberdade e responsabilidade, sempre guiados por um horizonte de esperança, ética e renovação. Porque a mudança verdadeira é feita por pessoas que acreditam e agem.